"Penso onde não sou, logo sou onde não penso."

segunda-feira, 28 de março de 2011

Registros necessários


Começaram minhas provas e trabalhos aí pouco tenho parado pra escrever coisas minhas por aqui, mas continuo escrevendo. Há uns 2 meses comprei um caderninho pra fazer algumas anotações afim de me nortear nas minhas sessões de terapia, pois, às vezes, ou melhor, quase sempre a demanda é tão grande que eu sempre saio da análise consciente de que esqueci de falar muita coisa importante, por isso o caderninho me acompanha por aí. Acabo sempre anotando palavras-chave (?) sobre o que acaba acontecendo comigo ou insights que eu tenho durante a semana e tem me ajudado muito, pois a minha memória de curto prazo não anda bem não! rs Pois é. Então foi depois disso eu me dei conta que voltei a escrever de vez, que novamente virou uma necessidade só que - ultimamente - de maneira mais convencional de escrita: lápis e papel. Fiz umas reflexões sobre isso... pois me senti mais íntima com meu caderninho do que aqui no blog, flui mais os sentimentos de tal forma que às vezes a escrita não acompanha a velocidade do meu pensamento. Percebi  o 'distanciamento' que uma escrita minha tem no blog em relação a minha escrita no caderninho.  Acho que junto com a tecnologia perdemos o hábito de coisas simples e gostosas de se fazer, e isso é uma pena. Aqui no blog eu me permito escrever de uma forma mais clara porque, teoricamente, outras pessoas irão ler, portanto, é bacana que se quem leia possa entender! No entanto, é notório que há uma influência direta no conteúdo, há uma certa censura de até onde fica o limite de tornar público coisas minhas, por mais que ninguém venha a ler o registro irá permanecer... percebo também que aqui tudo é mais bonitinho, formatado, justificado, ilustrado. Óbvio, aqui a estética conta muito, a organização de idéias, o sentido do texto... Talvez se você tenha lido até aqui, tudo tenha soado como crítica. Talvez até seja, mas não estou abandonando o blog não. Achei apenas relevante o discernimento e a reflexão disso, porque vai ficar mais fácil ter essas duas válvulas de escape pra canalizar tanta coisa. Em contrapartida, fica o meu simples caderninho, de capa dura e arame rosinha onde tudo está  totalmente proporcional as minhas emoções,  sem limites com toda intensidade do momento, onde permite rastros de cheiro, de toque, de rabiscos, de borrões, de pingos de lágrimas, etc. Acho que ao longo dos anos nos disvinculamos de coisas tão simples e tão mais reais, pelo menos na minha opinião, por isso a sensação de superficialidade que sinto muitas vezes na internet. Mas vejo que escrever aqui tem uma importante função, a de me sentir 'ouvida', a de ter voz e de, ao mesmo tempo, ter essa 'escuta' de mim mesma, de ler e reler o que registrei aqui porque sei que - possivelmente  - alguém lerá. É uma questão de equilíbrio, de não se deixar perder, de não se perder.
Boa semana, beijos
Champagne Supernova - Oasis.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Uma dose de 'loucura'.

"- Gatinho de Cheshire (...) Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
- Isso depende muito de para onde quer ir - responder o Gato.
- Para mim, acho que tanto faz... - disse a menina.
- Nesse caso, qualquer caminho serve - afirmou o Gato.
- ... contanto que eu chegue a algum lugar - completou Alice, para se explicar melhor.
- Ah, mas com certeza você vai chegar, desde que caminhe bastante.
- Mas eu não quero me meter com gente louca - ressaltou Alice.
- Mas isso é impossível - disse o Gato. - Porque todo mundo é meio louco por aqui. Eu sou. Você também é.
- Como pode saber se sou louca ou não? - disse a menina.
- Mas só pode ser - explicou o Gato. - Ou não teria vindo parar aqui.
Alice achou que isso não provava nada. No entento, continuou:
- E como você sabe que é louco?
- Para começo de conversa - disse o Gato - um cachorro não é louco. Concorda?
- É, acho que sim - disse Alice.
- Pois bem... - continuou o Gato. - Você sabe que um cachorro rosna quando está bravo e abana o rabo quando está feliz. Mas eu faço o contrário: eu rosno quando estou feliz e abano o rabo quando estou bravo. Portanto, eu sou louco.

(Trecho de Alice no País das Maravilhas) 

quarta-feira, 16 de março de 2011

Doce antítese.

"Sinto que espontâneamente tudo ao meu redor se modifica num leve soprar de movimento. Talvez se eu pudesse acrescentaria açúcar e adoçaria esse sopro amargo. Sim, amargo! 
De repente, me movimento e lá se vem flores e sabores e... ôpa, o que eu tava dizendo mesmo? Sim, sem o amargo o doce não pode ser tão doce!
Eis que surgem-me fantasmas e eis que eu os recebo de porta aberta - sim, eu aprendi a abrir a porta para eles- e quando menos espero: cadê-os? É assim que funciona, ou você permite a entrada ou eles nunca vão embora. 
Insegurança. Ah, a insegurança... Maldita insegurança! Sabe o que eu acho? eu acho é pouco! Não me peça pra justificar isso, pois eu não suportaria dizer-te. Portanto, permaneça inerte. 
Pensando bem as mudanças não são indesejáveis, elas são queridas, muito mais do que ficar a mercê da monotonia. Mas ainda sim, elas são sérias, enigmáticas. 
O conhecido sabor da monotonia é algo que paralisa - 'Por favor uma xícara de café e duas torradas!' - O que me paralisa, me é confortável. Confortável até certo ponto, pois até o conforto me assemelha ao tédio. 
Vejo que meio a tudo que me cerca sempre sobra um pouco de poesia na tentativa fracassada, na atitude não concretizada, no sonho invisível, no caos vigorando."

domingo, 13 de março de 2011

Dia treze ♥


Sabia, gosto de você chegar assim. 
arrancando páginas dentro de mim.
Desde o primeiro dia.
sabia, me apagando filmes geniais. 
Rebobinando o século. 
meus velhos carnavais. minha melancolia.
Sabia que você ia trazer seus instrumentos.

Invadir minha cabeça.
onde um dia tocava uma orquestra...   
Sabia que ia acontecer você, um dia.
E claro que já não me valeria nada tudo o que eu sabia.


[1 ano e 6 meses ]

quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma dose de nostalgia.

Hoje - no auge da minha gripe - resolvi procurar  um livro na minha mini biblioteca desorganizada - carinhosamente batizada de AliceBL - e então eis que surge um enorme espirro em meio a tanta poeira, após me recompor da sessão de espirros visualizo mais ao fundo da prateleira o meu antigo livro de cabeceira - Água Viva, de Clarice Lispector - que no ápice da minha adolescência exerceu a função, quase que diariamente, semelhante aqueles livros de auto-ajuda em que se abre aleatoriamente alguma página e lê-se um trecho - que subentende-se que seja uma palavra amiga lhe aconselhando a melhor forma de prosseguir o dia/vida. Em seguida peguei o livro coberto de poeira e dei uma passeada pelas folhas GRIFADAS quase que me sentindo numa viagem ao tempo, relendo as coisas que fizeram muito sentido num determinado momento da minha vida, e incrivelmente, pude perceber que há muito  ainda de mim sobre aquelas linhas grifadas. Foi então que resolvi publicar aqui um trecho que também foi aleatoriamente aberto. Espero que curtam e que se deliciem com sua maneira particular de interpretação, pois não me arrisco a fazê-la :)
"Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago. Só que aquilo que capto em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero das palavras ocuparem mais instantes que um relance de olhar. Mais que um instante, quero seu fluxo.Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo: porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do longe - de uma pesada ancestralidade. Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais.
Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo.
Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que apenas importa é o dardo.
Construo algo isento de mim e de ti - eis a minha liberdade que leva à morte. Neste instante-já estou envolvida por um vagueante desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que corre da bica na relva de um jardim todo maduro de perfumes, jardim e sombras que invento já e agora e que são o meio concreto de falar neste meu instante de vida. Meu estado é o de jardim com água correndo. Descrevendo-o tento misturar palavras para que o tempo se faça. O que te digo deve ser lido rapidamente como quando se olha."