"Sou muito agradecido à mãe natureza por ter me dado minha tristeza. É ela que me poupa de, alegremente, comemorar a perda de um amigo ou a perda dos dedos da mão. Ou ficar indiferente a isso. Bendita tristeza que não me permite ser absurdo em relação a tudo que me acontece vindo de externo a mim. Sou também grato a ela por me permitir ter um estado de espírito adequado à perda de ilusões. É muito aliviante poder estar triste quando constato não possuir, realisticamente, as virtudes que, ilusoriamente, eu me atribuía. Um fardo inútil que se deixa de carregar. E também, menor flagelação quando não correspondo às virtudes que não tenho. (…) Estou defendendo que a tristeza, apesar de dolorosa, é uma capacidade humana necessária, boa. E não, como habitualmente se acredita que, por ser dolorosa, é ruim. Ela é, mesmo, uma das mais infinitas variações da realidade externa ou à relação de cada um consigo mesmo. Numa palavra, permite adaptação."
Eu acho super curiosa a maneira como as pessoas lidam com a tristeza na cultura contemporânea do imediatismo - e, talvez, em alguns momentos eu não me excluo dessa massa. Se formos pensar na proporção que as coisas acontecem, talvez afirmar que as pessoas não possuem tempo para estarem tristes - tendo em vista a velocidade em que as coisas são exigidas e acontecem - parar significa muitas vezes perder tempo. Ok. Depois que comecei a ler mais sobre angústia, depressão e melancolia foi possível ver com maior clareza o reflexo disso na sociedade, na eclosão de transtornos mentais em função dessa cultura desumana. Lembrei de um material - se não me engano era um artigo - super interessante que eu li semestre passado: "Indivíduo doente, Sociedade sadia". É frustrante ver uma sociedade que exige muito e não te oferece suporte . Sobretudo, fica um enorme vazio e a sensação de que a sociedade não aceita e não disponibiliza lugar para indivíduos tristes. Por exemplo, um cidadão que deixa de produzir com eficiência no seu emprego em função de algum atrito familiar ou até mesmo pelo fato de estar se divorciando, esse sujeito não é bem visto pelos demais, as pessoas o enxergam como um fracassado, desequilibrado... Acho lamentável, pois isso contribui significativamente para que essas pessoas, de alguma forma, passem a não externalizar o que sentem e a inibirem seus sentimentos, podendo desencadear futuramente algum tipo de trantorno. Mas voltando ao artigo de Oswaldo D. Di Loreto, resolvi publicá-lo aqui para que possamos refletir sobre a temática, e não se trata de uma apologia à tristeza e sim de apontar uma outra ótica sobre a importância das nossas manifestações psíquicas, no quanto é importante essa sinalização do "estar triste", do quanto por trás dessa tristeza traz consigo questões afetivas nossas relevantes. E acima de tudo, trazer a reflexão de que nós devemos respeitar mais os nossos sentimentos e o dos outros indivíduos.