"Penso onde não sou, logo sou onde não penso."

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Em defesa do meu direito de ser triste.


        "Sou muito agradecido à mãe natureza por ter me dado minha tristeza. É ela que me poupa de, alegremente, comemorar a perda de um amigo ou a perda dos dedos da mão. Ou ficar indiferente a isso. Bendita tristeza que não me permite ser absurdo em relação a tudo que me acontece vindo de externo a mim. Sou também grato a ela por me permitir ter um estado de espírito adequado à perda de ilusões. É muito aliviante poder estar triste quando constato não possuir, realisticamente, as virtudes que, ilusoriamente, eu me atribuía. Um fardo inútil que se deixa de carregar.  E também, menor flagelação quando não correspondo às virtudes que não tenho. (…) Estou defendendo que a tristeza, apesar de dolorosa, é uma capacidade humana necessária, boa. E não, como habitualmente se acredita que, por ser dolorosa, é ruim. Ela é, mesmo, uma das mais infinitas variações da realidade externa ou à relação de cada um consigo mesmo. Numa palavra, permite adaptação."

(Trecho do artigo "Em defesa do meu direito de ser triste" do psiquiatra Oswaldo D. Di Loreto)

Eu acho super curiosa a maneira como as pessoas lidam com a tristeza na cultura contemporânea do imediatismo - e, talvez, em alguns momentos eu não me excluo dessa massa. Se formos pensar na proporção que as coisas acontecem, talvez afirmar que as pessoas não possuem tempo para estarem tristes - tendo em vista a velocidade em que as coisas são exigidas e acontecem - parar significa muitas vezes perder tempo. Ok. Depois que comecei a ler mais sobre angústia, depressão e melancolia foi possível ver com maior clareza o reflexo disso na sociedade, na eclosão de transtornos mentais em função dessa cultura desumana. Lembrei de um material - se não me engano era um artigo - super interessante que eu li semestre passado: "Indivíduo doente, Sociedade sadia". É frustrante ver uma sociedade que exige muito e não te oferece suporte . Sobretudo, fica um enorme vazio e a sensação de que a sociedade não aceita e não disponibiliza lugar para indivíduos tristes. Por exemplo, um cidadão que deixa de produzir com eficiência no seu emprego em função de algum atrito familiar ou  até mesmo pelo fato de estar se divorciando, esse sujeito não é bem visto pelos demais, as pessoas o enxergam como um fracassado, desequilibrado... Acho lamentável, pois isso contribui significativamente para que essas pessoas, de alguma forma, passem a não externalizar o que sentem e a inibirem seus sentimentos, podendo desencadear futuramente algum tipo de trantorno. Mas voltando ao artigo de Oswaldo D. Di Loreto, resolvi publicá-lo aqui para que possamos refletir sobre a temática, e não se trata de uma apologia à tristeza e sim de apontar uma outra ótica sobre a importância das nossas manifestações psíquicas, no quanto é importante essa sinalização do "estar triste", do quanto por trás dessa tristeza traz consigo questões afetivas nossas relevantes. E acima de tudo, trazer a reflexão de que nós devemos respeitar mais os nossos sentimentos e o dos outros indivíduos.

8 comentários:

Alice Bovy disse...

Makeli, tua escrita esta cada vez mais aprimorada, muito bom viu! Hoje na especialização assisti a um documentario sobre instituições psiquiátricas na França. Me chamou a atenção sobretudo um paciente que disse que ele aprendeu, durante seu tratamento, que têm-se que respeitar o tempo de cada um. Para o tratamento mas tambem para a vida. Ele fazia um trabalho de jardinagem e dizia que fazia tudo lentamente. Respeitar seu proprio tempo, de alegria, de tristeza, de angustia, de ócio... Quem é o louco? Ele, ou essa sociedade que se organiza de forma que ninguem mais pode respeitar seu proprio tempo e emocões?

Makeli disse...

Pois é, pois é, pois é!
Alice, o conceito de "insanidade" precisa ser revisto pela sociedade, se é que podemos pensar dessa forma.
Beijãooo

Eugenio Saboya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eugenio Saboya disse...

Sempre a achei (a tristeza) necessária... é um tempo pra nos mesmos, e quando superada não a gosto mais saboroso!

Makeli disse...

Com certeza, Eugênio!! É incrível como nós crescemos e nos tornamos melhores depois de experiências que consequentemente envolve tristeza. Há muito mais coisas por trás das lágrimas derramadas... Beeeijo.

Laninha disse...

Eu acho que através da tristeza,da solidão,da melancolia, conseguimos alcançar sentimentos extremamente necessários para a vida.Nos descobrimos tanto, TALVEZ ainda mais do que quando nos sentimos alegres.
Oi minha querida amiga Makeli!
É maravilhoso ter a oportunidade de participar um pouquinho de suas reflexões, e conseguir ver de uma forma geral a opinião de outras pessoas a respeito de assuntos que são importantíssimos.
Vou acompanhar sempre que puder...pode crer!
beijoooos

Makeli disse...

Obrigada, Laninha! Seja bem vinda.
Que bom que vc gostou do blog...Apareça mesmo por aqui, vou adorar ver a sua opinião. Beijos.

Norah disse...

http://psicodecadadia.blogspot.com/
Gostei do seu texto!!