"Penso onde não sou, logo sou onde não penso."

quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma dose de nostalgia.

Hoje - no auge da minha gripe - resolvi procurar  um livro na minha mini biblioteca desorganizada - carinhosamente batizada de AliceBL - e então eis que surge um enorme espirro em meio a tanta poeira, após me recompor da sessão de espirros visualizo mais ao fundo da prateleira o meu antigo livro de cabeceira - Água Viva, de Clarice Lispector - que no ápice da minha adolescência exerceu a função, quase que diariamente, semelhante aqueles livros de auto-ajuda em que se abre aleatoriamente alguma página e lê-se um trecho - que subentende-se que seja uma palavra amiga lhe aconselhando a melhor forma de prosseguir o dia/vida. Em seguida peguei o livro coberto de poeira e dei uma passeada pelas folhas GRIFADAS quase que me sentindo numa viagem ao tempo, relendo as coisas que fizeram muito sentido num determinado momento da minha vida, e incrivelmente, pude perceber que há muito  ainda de mim sobre aquelas linhas grifadas. Foi então que resolvi publicar aqui um trecho que também foi aleatoriamente aberto. Espero que curtam e que se deliciem com sua maneira particular de interpretação, pois não me arrisco a fazê-la :)
"Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago. Só que aquilo que capto em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero das palavras ocuparem mais instantes que um relance de olhar. Mais que um instante, quero seu fluxo.Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo: porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do longe - de uma pesada ancestralidade. Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais.
Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo.
Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que apenas importa é o dardo.
Construo algo isento de mim e de ti - eis a minha liberdade que leva à morte. Neste instante-já estou envolvida por um vagueante desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que corre da bica na relva de um jardim todo maduro de perfumes, jardim e sombras que invento já e agora e que são o meio concreto de falar neste meu instante de vida. Meu estado é o de jardim com água correndo. Descrevendo-o tento misturar palavras para que o tempo se faça. O que te digo deve ser lido rapidamente como quando se olha."

3 comentários:

Alice Bovy disse...

Makeli!!! To impressionada!! Esse texto fala muito de ti mesmo, e incrivelmente se adapta ao teu momento, de construçao de um belo jardim, que te enche de alegria, mas que foi adubado com todas tuas experiências, boas e ruins! Deixe florescer sempre! A liberdade para ser feliz nem sempre é tarefa fácil, exige (des)construçoes diárias.

Obrigada pelo nome da suas biblioteca! hehehehhe Fico tranquila em saber que meus queridos livros foram repassados para maos cuidadosas e para alguém ávida em absorver o conhecimento inscrito neles!

Bjssssss cheio de saudades!

★ Vládia Almeida disse...

Amei teu blog Makeli!
Gostoso demais de ler.
Super beijo, to te seguindo!

Makeli disse...

Obrigada, meninas!! Mil beijos ;**